Hoje uma das 10 marcas mais fortes do Brasil, a instituição celebra grandes realizações em defesa do empreendedorismo e dos pequenos negócios no país
O presidente do Sebrae, Carlos Melles: história da instituição representa um salto enorme para a sociedade brasileira (Foto/crédito - Charles Damasceno/Sebrae)
O Sebrae, como instituição, foi criado formalmente em 5 de julho de 1972. Há 50 anos, ainda grafado como Cebrae, nascia o Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa, uma das mais acertadas criações brasileiras. Mas o início dessa trajetória vitoriosa, sempre associada aos empreendedores brasileiros, foi muito antes, com a criação do Grupo Executivo de Assistência à Média e Pequena Empresa (Geampe), em 1960, no governo Juscelino Kubitschek, na origem da ideia que veio a se transformar nesse gigante em defesa dos pequenos negócios. Em 1990, aos 18 anos, como tinha de ser, veio o batismo definitivo do Sebrae e, concomitantemente, a emancipação jurídica do então adolescente Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, desvinculando-se da administração pública e tornando-se um serviço social autônomo, sem fins lucrativos.
Essa nostálgica linha do tempo do Sebrae é um motivo de orgulho e, simultaneamente, traduz o legado da perseverança e da fidelidade à sua missão original: a organização, capacitação e a promoção do desenvolvimento econômico e competitividade das micro e pequenas empresas para fomentar o empreendedorismo no país. Apesar de avanços gradativos para o segmento, pode-se afirmar com boa margem de segurança que um dos marcos legais mais relevantes para o segmento veio em 2006.
Embora protegido por muitas balizas constitucionais, o setor padecia com a ausência de uma legislação para robustecer e avançar no tratamento diferenciado, determinado pela Constituição Federal de 1988. O ambiente, então, era de extrema adversidade com excessiva burocracia e uma selvageria tributária, que condenava os empreendedores ao fracasso pré-datado. Nesse contexto, o Sebrae liderou uma mobilização que redundou na aprovação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, uma revolução silenciosa. Foram muitos os passos pequenos de grandes homens e mulheres, mas que representaram um salto enorme para a sociedade brasileira.
Honrou-me a história e a providência em poder estar, modestamente, conduzindo o Sebrae nesse momento de celebração dos seus 50 anos. Meio século sem perder o ímpeto adolescente, a energia renovadora, a inquietação crítica para seguirmos falando de futuro e continuar fazendo história por muitas décadas, como já feito por outros. Me recorro ao pretérito para uma reverência obrigatória a todos os presidentes e diretores que nos antecederam.
Citar todos com a ênfase adequada seria insuficiente, injusto. Cada um deles contribuiu significativamente para o alargamento da reputação dessa marca que hoje é sinônimo de inovação, qualidade, capacitação, engenho, relevância, estima, agilidade, responsabilidade social e ambiental, originalidade, progresso, dinamismo e utilidade. Atributos que, obviamente, não foram conquistados apenas pelo corpo diretivo do órgão ao longo das cinco décadas, mas por cada um de seus dedicados colaboradores, parceiros e entusiastas – e eles são incontáveis. A força do Sebrae está na base, na disposição, no trabalho, na luta daqueles que transpiram e inspiram, sustentam suas famílias e expandem seus negócios apesar de uma renitente adversidade.
O muito já realizado não aconselha o repouso ou conforto. Ainda estamos distantes do modelo desejável, pois cotidianamente contrapomos um ambiente adverso para os donos de negócios com burocracias desnecessárias, tributações impróprias, gargalos restritivos no acesso ao crédito e, até mesmo, a reiteração de retóricas infundadas, algumas falaciosas, quanto à efetividade e importância dos pequenos negócios na pujança econômica. Os dados superlativos do segmento falam por si: 99% dos negócios em funcionamento no país, 55% dos empregos formais gerados no Brasil, 44% dos salários pagos mensalmente aos trabalhadores, 30% de participação na riqueza nacional e 78% das vagas de trabalho gerados em 2021. E, o mais relevante deles, que confere esse protagonismo inequívoco das MPE, imprescindíveis para a nação: eles impactam direta e indiretamente a vida de 86 milhões de brasileiras e brasileiros, ou seja, 40% vivem, trabalham, estudam, se alimentam, se divertem a partir de atividades vinculadas às MPE. Há, portanto, uma robusta conexão entre pequenos negócios e o Brasil – e, por extensão, entre o Sebrae e o país.
Para além das estatísticas, nós somos feitos da miscigenação, da crença, do suor e da força dos milhões de Josés, Marias, Raimundos, Cristinas entre tantos outros nomes honrados que enobrecem o Brasil. Com esses parceiros gigantes conquistamos, agora em junho, um emblemático presente de aniversário nesses 50 anos, nos quais não faltaram reconhecimentos e honrarias. A revista IstoÉ Dinheiro, em dobradinha com a TM 20, BAV, WPP e Superunion, anunciou que o Sebrae figurou, pela 1ª vez, entre as 10 marcas mais fortes do Brasil. O honroso ranking, referente ao ano de 2021, foi elaborado após 17 mil entrevistas, quando foram valoradas nada menos do que 1.700 empresas e avaliados 48 atributos vinculados a essas corporações.
É a coroação desse trabalho diuturno de meio século de cada um daqueles que trabalharam e ainda lutam pela expansão desse segmento que tem dado retornos concretos ao Brasil e à sociedade. É com essa mesma determinação, de demonstrar o caráter estratégico das micro e pequenas empresas na criação de empregos, geração de renda e no crescimento econômico que convidaremos os candidatos à Presidência da República para escrevermos o futuro do setor. Além da retrospectiva necessária, precisamos de uma agenda para os próximos 50 anos. Esse jovem senhor que é o Sebrae ainda guarda a energia criadora da sua juventude.
Carlos Melles
Carlos Melles, 75 anos, é presidente do Sebrae, engenheiro agrônomo, pesquisador e dirigente cooperativista. Foi deputado federal por 6 mandatos consecutivos. Tem histórico de luta pelas causas voltadas ao agronegócio, ao cooperativismo e às micro e pequenas empresas. Na Câmara dos Deputados, presidiu a Comissão Especial da Microempresa, que aprovou a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (2006). Foi relator do projeto MEI (Microempreendedor Individual) e da ESC (Empresa Simples de Crédito), em 2018. No Governo Federal, foi ministro do Esporte e Turismo (em 2000) e, no Governo de Minas Gerais, secretário de Transportes e Obras Públicas (2011).
Sobre o Sebrae 50+50
As atividades que marcam os 50 anos de existência giram em torno do tema “Criar o futuro é fazer história”. Denominada Projeto Sebrae 50+50, a iniciativa enfatiza os três pilares de atuação da instituição: promover a cultura empreendedora, aprimorar a gestão empresarial e desenvolver um ambiente de negócios saudável e inovador para os pequenos negócios no Brasil. Passado, presente e futuro estão em foco, mostrando a evolução desde a fundação em 1972 até os dias de hoje, com um olhar também para os novos desafios que virão para o empreendedorismo no país.
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Abrir uma startup dá trabalho e muitos empreendedores não veem a hora de conquistar um aporte para poder expandir seus negócios. Mas, investimentos são baseados em critérios como confiança, retorno sobre o capital e o encaixe entre as estratégias do fundo e da empresa investida. Por isso, um investimento em early-stage (fase inicial) pode demorar mais do que você pensa. Cada investidor tem um timing próprio e um processo de avaliação diferente. No Brasil, existem quatro tipos mais comuns de investidores:1. Angels que atuam individualmente Também conhecidos como “investidores-anjo”, se tiverem boas referências do empreendedor e do projeto, podem levar de 2 a 8 semanas para investirem uma média de R$ 100 mil (ou até mais que isso, em alguns casos).2. Grupos de Angels Grupos de angels atuando em conjunto costumam avaliar projetos em fóruns semestrais. Aproveitando a janela de oportunidade e sendo aprovado para os fóruns na hora certa, você pode conseguir de R$ 200 mil a R$ 500 mil em até 3 meses.3. Fundos de capital semente com recursos privados (como a Astella ou Monashees): Os fundos com recursos privados geralmente definem suas próprias regras porque tem mais flexibilidade para negociar acordos junto aos seus diversos investidores. Alguns deles podem avaliar sua empresa, sumir por um tempo e reaparecer com uma proposta. Outros podem ajudá-lo a melhorar a empresa informalmente e, ao final de vários meses de interação constante, fazerem uma proposta formal de investimento para fechá-la em poucos dias. Fundos como esses tendem a fazer um primeiro aporte de R$ 200 mil a R$ 1 milhão em um período entre 3 a 6 meses para projetos realmente atrativos.4. Fundos de capital semente com capital público em sua composição (como a Confrapar e alguns fundos da FIR Capital) Nesse caso, os fundos têm regras específicas e investidores institucionais, aumentando a formalidade do processo de avaliação. Por isso, podem levar de 3 a 6 meses somente para avaliar se a empresa está apta a receber um investimento de entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões. Na média, projetos maduros recebem R$ 2 milhões em até 6 meses, contando 3 meses para avaliação e 3 meses migrando a empresa para a nova estrutura de capital. Como organizar seu contato com investidores Interagir com o tipo certo de investidor é importante porque traz conselhos relevantes e ajuda a medir a atratividade do seu projeto. Mesmo assim, essa prática deve ser muito bem gerenciada: o empreendedor não pode ficar muito tempo sem obter feedback, mas também não pode gastar tempo demais atendendo às demandas dos investidores. Também é importante ressaltar que a pior hora para conseguir investimentos é quando o dinheiro acaba, a ponto do projeto congelar ou mesmo morrer. Planeje-se para engrenar sua startup antes dessa hora chegar ou gerencie seu contato com os investidores certos para acioná-los na hora certa. Autor convidado: Yuri Gitahy, fundador da Aceleradora.