Artigo do empreendedor social Ned Tozun mostra que dedicar um empreendimento a melhorar a vida do próximo pode ser compensador.
Ser um empreendedor é algo frequentemente glamourizado, mas, na verdade, começar e tocar um negócio é difícil e requer determinação e perseverança.
Na vida de qualquer empreendedor, o sucesso não é garantido, mas pressão e estresse, sim. A pressão e o estresse podem diminuir e até desaparecer, mas quase todo empreendedor vai encontrar, vez ou outra, desafios que parecem não ter solução. Eu encontrei esses desafios diversas vezes nos meus 15 anos de atividade.
O renomado empreendedor e investidor de risco Ben Horowitz resume, no post The Struggle (A Luta), o sentimento de encarar um abismo de dificuldades, sem um final à vista – sentimento que já é familiar para milhares de empreendedores.
A questão crucial nesses momentos de luta é: o que realmente motiva e direciona você? Quando está preso no abismo, o que te guia? Quando parece que o mundo está contra você, o que o faz sair da cama e encarar um novo dia?
Em meus primeiros momentos de empreendedorismo, meus objetivos eram auto-orientados – típicos de um americano novo e ambicioso. Seis meses depois da graduação, larguei meu trabalho como engenheiro para abrir uma empresa com alguns amigos. Nós criamos uma tecnologia que nos permitia fazer músicas personalizadas para crianças e que integrava facilmente o nome delas ao longo das canções.
Eu amo música, tecnologia e crianças, então sentia que essa startup era uma forma de seguir minhas próprias paixões e fazer algo que eu amava. Eu queria um desafio. Queria crescer, ser financeiramente independente e controlar meu próprio destino.
Metas auto-orientadas são legítimas motivadoras e não intrinsecamente ruins. Mas, de acordo com minha experiência, elas só levam você até parte do caminho. Elas formam uma imagem incompleta do que compõe uma vida satisfatória.
Enquanto o negócio de músicas personalizadas lutava para chegar ao próximo patamar, minhas metas originais não eram significativas o suficiente para justificar nossa perseverança contínua. Naquele momento, me vi atraído pela ideia de que negócios e tecnologia poderiam ser potencializados para atingir grandes problemas sociais.
Investimento no social
Em vez de continuar a trabalhar com músicas personalizadas, eu me inscrevi em uma faculdade de administração na esperança de me inserir no mundo do empreendimento social. Mudar a direção me levou a cofundar a d.light, que acabou impactando mais de 128 milhões de pessoas em 60 países. Agora, o nosso objetivo é transformar a vida de 1 bilhão de pessoas com produtos sustentáveis até 2030.
Ao longo do caminho, houveram inúmeros momentos em que parecia pouco provável que a d.light pudesse algum dia sair do papel e em muitos desses momentos eu pensava, inclusive, se fazia sentido continuar. Mas, apesar das chances aparentemente difíceis, meus companheiros de negócio e eu nos mantivemos firmes.
Depois de dezesseis anos de trabalho duro, suor e lágrimas, fomos capazes de atrair empregados e parceiros incríveis para a causa; construímos algo que está mudando a vida de milhões de pessoas no mundo em desenvolvimento.
Meus objetivos e princípios, quando são autocentrados, são passageiros em momentos mais difíceis; na verdade, quanto mais autocentrados eles são, mais passageiros. Quando penso no inverso, entendo que, quanto mais solidários são meus objetivos e princípios, mais eles tendem a perdurar.
Quando nossos objetivos são guiados pelo desejo de servir a outras pessoas, eles têm uma profundidade completamente diferente de poder. Muitos de nós começamos pela vontade de criar um mundo melhor para nossas famílias. Isso é certamente mais significativo e orienta pessoas no sentido de conseguir coisas incríveis e superar inúmeros percalços.
Lembro-me de meu pai, que sacrificou tudo que lhe era familiar e seguro ao imigrar para os Estados Unidos a fim de criar oportunidades melhores para sua família. De forma semelhante, eu também continuo a me impressionar e inspirar pelos sacrifícios que nossos clientes fazem para dar um futuro melhor para suas crianças.
A metáfora do bom samaritano
Mas e se dedicássemos nossas ambições profissionais a pessoas fora de nosso círculo imediato de familiares e amigos? E se voltássemos a nossa atenção a estranhos? Na Bíblia, Jesus ensina a “amar o próximo como a si mesmo”. Ele responde à provocativa e importante questão sobre saber "quem é meu próximo" com uma história altamente subversiva: a do Bom Samaritano.
O Bom Samaritano não é apenas alguém que é bondoso com outros seres humanos que passam necessidade. Na verdade, ele é alguém que consegue superar barreiras raciais e culturais, bem como preconceitos socialmente aceitos, com o objetivo de demonstrar amor e bondade a alguém que é diferente – e até mesmo considerado um inimigo.
Essa visão mais abrangente com relação ao “próximo” que devemos amar é particularmente importante hoje em dia. Apesar de as redes sociais e outras tecnologias modernas fazerem com que o mundo pareça bem menor, desigualdades socioeconômicas estão aumentando em um ritmo assustador. Para mim, a vontade de ser uma boa pessoa e amar famílias que vivem marginalizadas me motivou a perseverar em tempos difíceis.
Quando tenho certeza do porquê estar fazendo alguma coisa, o “o quê” e o “como” eventualmente aparecem, mesmo se eu estiver exausto e me sentindo longe da minha área de especialidade.
Há duas semanas, visitei alguns clientes no Quênia que queriam usar nosso produto solar mais recente. A experiência pareceu um raio de eletricidade em meu sistema nervoso. Ver de perto o impacto positivo da d.light alimenta meu desejo de continuar perseverando. Todas as dificuldades e etapas que tivemos que superar são passageiras. O que permanece, e que é muito mais satisfatório e duradouro, são as milhões de vidas que estamos mudando para melhor.
Conteúdo feito em parceria com a Endeavor Brasil.
Ned Tozun é cofundador e CEO da d.light.
Foi um prazer te ajudar :)